Luke's


Últimas horas de um ciclo.
4 anos.
Muitas palavras ficaram rondando, frases querendo sair, mas...
"Coisas minhas... Talvez você nem queira ouvir..."
Eu poderia dizer tudo e mesmo assim não diria nada.
Explico melhor tal paradoxo brega: nada que eu diga conseguiria traduzir minha gratidão. Mesmo que eu fique horas agradecendo, ainda não me sentiria satisfeita.
Vivo dizendo que minha vida é um seriado.
Fiquei imaginando como seria a última cena desse capítulo...
Ela então disse: "Vou na padaria tomar café, quer ir?"
Não poderia ter pensado em melhor desfecho.

Nosso ritual de domingos matinais.

Algo calmo e tranquilo, simbolizando que o seriado não teve fim apenas mudou de temporada.


Uma cena

"- Há quanto tempo você está com o papai?
- 25 anos.
- Nossa, é uma vida!
- Sim, vivemos mais tempo juntos do que separados.
- Certa vez ele me contou que, ainda no tempo de namoro, quando ele saia do seu carro morria de saudade de você no trajeto que fazia do carro até à porta da casa.
- É... Quando ele saia do meu carro eu ficava louca de saudade. Minha vontade era sair correndo e pular nos braços dele!
- E por que você não fazia isso?
- Porque eu pensava demais.
- Pensava demais?
- É.. Pensava demais. Anote essa: não pense demais!
- Anotado!"

O Avesso dos Ponteiros




"Sempre chega a hora de arrumar o armário..."

Shakespeare



"Aprendi que falar pode aliviar dores emocionais"

À moda antiga


Da missa nem a metade.
Eu senti que iria te conhecer.
Eu disse brincando pra alguém que me cobrava nova paixão: - Virá da nova escola!
E lá veio você... Pele morena por mim tão admirada. Óculos de armação grossa, que usa por necessidade. Cabelos encaracolados e longos. Blusa laranja e calça jeans incomum de seu vestuário. Perfume de shampoo. Voz e olhar marcantes.
Puxou uma cadeira, sentou ao lado, papo vai papo vem... Mais eu gostava da voz, do jeito de falar, dos grandes olhos que agora eu via de perto, da boca carnuda, do jeito tímido se soltando em soquinhos de palavras.
Assim que ouvi o nome pensei: a companheira de sala de minha prima. Aquela que ela disse que eu ia gostar. Minha parenta sabe mesmo de meus gostos.



11/11/2009
Recém chegada de outra noite de cerveja com você. Sai leve dessa vez... Sem ficar me perguntando as milhões de coisas que me pergunto assim que me despeço. Hoje te abracei forte, te abracei forte mesmo. Estava dizendo o quanto te quero bem.

12/11/2009
Quão forte foi a surpresa quando te vi chegando de cabelo novo! Mais forte ainda foi quando você disse: “Falei com você, falei com a minha mãe... E cortei”
O corte lhe fez bem. Sorriso constante no rosto. Leveza. Acho que estamos perdendo o olhar tenso e isso é bom.
Quase me entreguei ao medo outra vez. Eu fico esperando iniciativas de sua parte e elas não vêm da maneira que espero, mas de alguma forma vêm.

13/11/2009
Sexta-feira treze, sozinha no apartamento treze!
Pensar em você é algo já por mim não controlado. Para reforçar busco o Zé. Impressiona-me como Garoto de Aluguel te traz pra perto. Um clima se instaura. Esses violões, a rebeldia da voz e letra... Liberdade e frieza. Por que isso me remete a você?
No fim de tarde senti vontade de trazê-la a Saturno... Pra bater papo, como fizemos tanto essa semana... Ir trabalhar junto no outro dia... Devaneios. Fiquei na vontade.


15/11/2009
Dia de Proclamação e beijo no nariz.
Sem saber direito de onde veio a coragem, ontem, brinquei bastante com você.
Acordei e permaneci deitada 45 minutos, repassando suas palavras, suas faces, seus beijos. Seu beijos... Há quanto tempo eu não vivia um beijo tão gostoso?! Beijo é sempre beijo. Mas beijo com desejo de beijo é O beijo.
Outro lado de você: moleca, brincalhona, docemente tímida.
Consegui ver uma pessoa que eu sabia que existia muito antes de conhecê-la.
Sempre caio no mesmo pecado: idealização. Com você parece que faço o caminho inverso. Tomei contato imediato com uma porção de diferenças que nos afastariam passado o cabresto idealizador... O pior já foi, sinto.


16/11/2009
“Sou animal sentimental, me apego facilmente ao que desperta o meu desejo”
cantou Renato.

Fico com raiva de mim por não conseguir puxar o freio dos pensamentos. Que diacho!
Hoje tive vontade de falar de você para minha mãe. Diabos de paixonite avassaladora! Te laça, feito cobra grande, vai se enrolando e envolvendo o corpo, aperta, aperta, sufoca até não ter mais vermelho circulando e finda a respiração.
Outro dia você disse que não sabe se terei paciência para esperar... Talvez se eu soubesse pelo o que estou esperando...

17/11/2009
“E ai...?” dito duas vezes deve ser interpretado como?
O que se faz com essa mania humana de esconder os sentimentos?
Por que não consigo satisfazer essa vontade de te convidar pra fazer qualquer coisa hoje a noite? É simples, no máximo ganharei um não... Mas fico aqui me perguntando se isso não irá te invadir, se isso não irá te pressionar... Deus!
“Alguma coisa no ficar com você me incomoda, não me sinto a vontade”
frase martelante que poda.

18/11/2009
“Outra coisa que eu queria te falar...”
Eu também tenho algo a dizer. Eu sei o que eu quero e eu quero você. Porém, o tempo que você pode demorar pra se entender pode ser o tempo que eu precise para não te querer mais.


01/12/2009
“Conte pras amigas que tudo foi mal”

Quanto dias sem escrever!
Des-encanto é a palavra.
Des ejo é outra palavra forte que ainda existe.
Noutro dia listei algumas vontades:

Passear de carrro cantando/gritando musicas significativas
Conhecer os seus
Apresentar os meus
Papear sobre a família/trabalho/qualquer coisa
Trocar sms
Beber cair e levantar
Filosofar
Fundar um partido político (por que não?!)
Dividir os traumas
Somar as conquistas
Trocar figurinhas
Rir...

Resumo: queria uma companheira e embora eu torça contra minha intuição, ela me diz que não será você...

Ainda que ridícula


"A cada dia me convenço que o desperdício da vida
está nas forças que não usamos,
no amor que não damos,
na prudência egoista que nada arrisca
e que,
esquivando-se do sofrimento também perde-se a felicidade."

***

"And to be yourself is all that you can do... "

What if God was one of us


"What would you ask
If you had just one question?"
*
Primeiro andar, na janela de uma sala imensa.
Vizinhos à vista.
Janelas acesas que abrigariam que tipo de pessoa?
Sozinha em casa como há tempos não ficava.
Serão os vizinhos igualmente sozinhos?
Por que tem sido tão dificil ficar/estar sozinha?
Inivetavelmente o pensamento foca-se em si.
E o que a vida virou?
Teto provisório.
Mãe doente.
Responsabilidades acumuladas devido as irresponsabilidades somadas.
E por que romper o ciclo vicioso/inconsequente parece tão impossivel?
Ganhei um cinzeiro de presente, impensável há um ano atrás.
Skol ocupando o estômago vazio.
Será mesmo preciso perde-se para encontrar?

São muitas perguntas.
Não ia conseguir fazer apenas uma.

Sonhadora


Qualquer amor é um poquinho de saúde,
um descanso na loucura.
Guimarães Rosa

Edição Limitada


"Baby
Nossa relação
acaba-se assim
como um caramelo
que chegasse ao fim
na boca vermelha
de uma dama louca"
Zé Ramalho
*
A vontade de dar-lhe um presente de viagem veio muito antes de pegar o avião.
Devaneios.
Desejos.
Vontade de agradar.
Gentilezas.
Primeiro dia e achei o presente.
Melhor impossível: um vinho.
Orgânico, saboroso, sofisticado, para impressionar.
Como faço para trasnportá-lo?
Muito cuidado.
Plástico bolha.
Bagagem de mão, próxima ao coração.
Ela nunca saberá que teve um presente comprado para si com tanto carinho e zelo, pois, cá escrevo degustando o Cabernet Sauvignon.
Não perceberia o afeto empregado.
Não iria saboreá-lo reciprocamente.
Eu não, sei o que este líquido seco representa para mim.
Mereço-o mais.

Alexandra


Sentada no chão da sacada,

escrevendo e conversando no computador,

como fiz tantas e tantas vezes aqui...

Hoje faço pela última vez.



Lembro como se fosse ontem a alegria que senti quando me mudei para cá.

Triplicamos o tamanho da casa.

Havia cômodos desta vez.

O espaço maior possibilitou a vinda da Gathinha.

Fundou uma Roda.

Abrigou um romance lindo.

Escondeu uma serapação dolorosa.

Possibilitou o recomeço, dois reinícios.



Três anos é pouco perto de uma vida inteira.

Mas foram anos de transição, maturação.



O pintor apagou as borboletas da parede sim,

mas ainda as vejo lá.

E vou levar comigo a foto da sala
e todas as marcas que os dias vividos aqui me deixaram.



Verde

Era a única cor que eu já sabia.
No entanto, foi a parte do desenho que senti vontade de pedir a opinião dele:
- Que cor uso no pássaro?
E ele disse todo empolgado:
- Verde!

Traduzi, neste momento, a nossa relação:
IDENTIFICAÇÃO.
ESPELHO.
Ireal de tão real por vezes.
Ele ameniza minhas inseguranças.
Todos os amigos fazem isso de certa forma, mas há uma diferença.
Ele me apoia/acolhe/entende sendo eu comigo.
Somos a mesma pessoa, em todas as partes em que se pode ser parecido com alguém. Até nas inconscientes.

Há os que possam dizer:
"Amizade assim é uma delícia mesmo, ele sempre vai te dizer o que você quer ouvir"
Lêdo engano.
Ele retira de mim o que há de mais obscuro.
Joga na face o que insisto esconder.
Nossas conversas são quase inconversáveis de tão abstratas, e quase tudo dito em meias palavras, não precisamos nos explicar.

Uma amizade ganha sem força.
Vinda de uma noite bagunçada,
saída de outro vínculo.

Porém certeira ao ponto de tomar contas de todos os dias, horários, vontades, devaneios...
Sinto vondade de me trancar na sacada (nosso lugar) com ele,
seja para falar, ficar em silêncio, rir, chorar, dançar as músicas prediletas da balada, cantar os hinos da igreja...
Não há restrições.


A necessidade foi criada, instalada.
E era por isso que eu teimava tanto em escrever.
Sentimento escrito vira documento.
Está documentado que não sei mais passar os dias sem você.

Reparo

"Te escrevo, enfim,
me ocorre agora,
porque nem vc
nem eu
somos descartáveis"
Caio Fernando.
*

Eu deveria ter dito sim:
- Sim eu quero, estava só esperando vc fazer o convite.

Ou então, ao menos, ter explicado o não:
- Eu quero, mas a nossa conversa me deixou com receio de estar forçando qualquer coisa, não consigo ir. Não consigo ir porque me preocupo demais com o que vc pensa sobre mim. Não consigo ir porque tô com medo do que possa representar esse preocupar desnecessário. Não consigo ir porque depois, eu sei, vou querer voltar sempre.

Era simples: fazer o que eu queria.
E eu queria muito ficar com você.

Mamma

Dia desses ela ligou e fez um convite:
- Vamos ao shopping, compramos o presente do seu pai e depois podemos jantar juntas, que tal?
Ela odeia shoppings e nunca come fora de casa.
O susto não parou por ai:
- Eu te pego no seu apartamento e depois te deixo.
Foram quase dez anos tentando arranjar caronas e pouquissímas conquistas.
Quando a esmola é demais o santo desconfia, mas dei crédito: fui.
Passeamos, compramos o tal presente, conversamos, jantamos...
E quando achei que a cota de surpresas da noite tivesse atingido o limite ela disse:
- Eu pago, fica tudo por minha conta.
Pasma.
Pasma e contente.
*

Hoje, nova ligação, outro convite:
- Você não quer ir comigo na festinha do Gabriel?
- Ah... Não tô com paciência pra encontrar a família Buscapé inteira...
- Então venha almoçar aqui amanhã. Eu te busco.
- Tudo bem, amanhã eu vou.
No horário combinado (inédito) ela estava na portaria.
De blusa novelísticamente indiana e sorriso no rosto.
Conversa sem pausas durante o caminho.
Parada no supermercado para comprar os ingredientes do almoço, todos os meus prediletos.
Fiz companhia enquanto ela cozinhava.
Não me deixou ajudar.
Lembrou que está aprendendo Crochet, mostrei interesse e isso a empolgou.
Quando percebi nos vi envolvídissimas com lã e agulhas...
E até agora não consigo encontrar outra lembrança de algo que ela tenha me ensinado a fazer. Não assim, com tanto empenho, boa vontade e atenção.
Eu fiquei ali, na posição de filha.
Filha que aprende com a mãe.
E não a filha ingrata que não corresponde as expectativas maternas, posição costumeira.
- Você aprendeu rápido. Aliás, você sempre aprendeu tudo muito rápido.
E foi com esse elogio, barriga cheia e uma caixa de doces que voltei para casa.

Nada, realmente, é impossível.

*
Acordei com o canto de pássaros, vizinhos recém-descobertos.
Canto cheio de significados.
Desejei que um deles fosse o de anúncio de um bom dia.
Foi mesmo.

Peças


E assim quis o destino.
Fica a pergunta:
Há alguma razão maior?
*
Na espera.

Curitiba


"Talvez eu passe um tempo longe da cidade..."
Tirando o lixo da cabeça.

Beatriz


"Olha...
Será que ela é moça?
Será que ela é triste?"
Sim.
Tão triste quanto eu.
Carrega feridas abertas.Crônicas.
*
"Será que é pinturao rosto da atriz?"
Pintura quase perfeita.
A maqueagem da indiferença quase me enganou.
*
"Se ela acredita que é outro país..."
Sabe que não é.
Mas quer muito ser outro país.
Um em que ela não sofra tanto.
*
"E se ela só decora o seu papel..."
Sua rotina é roteiro na ponta da língua.
E por mais alternativa que seja sua vida,
cansada de seus dias ela está
*
"Se ela mora num arranha-céu...
E se as paredes são feitas de giz...
e se ela chora num quarto de hotel..."
Não mora em prédio,
odeia edifícios,
mas as paredes de sua casa são mais frágeis que giz
e já devem ter abrigado muitas lágrimas.
*
"Diz quantos desastres tem na minha mão..."
Falava de si e me descrevia.
Queria ter me identificado menos.
*
"E se eu pudesse entrar na sua vida..."
Houve um ensaio regado a vinho.
mas...
Por hora, como ela diz,
fico com a música do Chico.

SHUT-OUT

8pm
Dedos cruzados até domingo.

Magneton


"Que coisas são essas que me dizes sem dizer, escondidas atrás do que realmente quer dizer?Tenho me confundido na tentativa de te decifrar, todos os dias."
Caio Fernando Abreu
*
O pior é ter certeza de que as conclusões são todas fruto do meu querer.
Análises e mais análises...
Tudo em vão.
Deveria estudar Física e não Educação.
Tenho potencial para trabalhar com Ilusões de Ótica.
Simulações.
Raciocícios infinitos sem nada de concreto como base.
Apenas suposições.
Praticamente um estudo de vetores.
O pior foi a seta encaixar em sentido e direção.
Sabe aquelas idealizações de 'par perfeito' que se faz quando adolescente?
Aquelas perguntas dos cadernos-interrogatório:
"O que te atraí em alguém?"
Pois bem, está lá a sua descrição.
*

"Não sei se em algum momento cheguei a ver você completamente como Outra Pessoa, ou, o tempo todo, como Uma Possibilidade de Resolver Minha Carência. Estou tentando ser honesto e limpo. Uma Possibilidade que eu precisava devorar ou destruir."
Caio F. A.

Teste


O idealista


Seu modo principal de viver é focado internamente, lidando com as coisas de acordo com a maneira com que você se sente quanto a elas, ou de acordo com a maneira com que elas se encaixam no seu sistema de valores pessoais. Seu modo secundário é exterior, através do qual você absorve fatos principalmente através da sua intuição.
Você, mais do que outras pessoas que são intuitivas e que dão mais ouvidos aos sentimentos do que à razão pura, é focado em fazer do mundo um lugar melhor para as pessoas. Sua primeira meta é encontrar o seu significado na vida, perguntando coisas do tipo: “Pra quê eu existo? Qual é o meu propósito? De que maneira eu posso melhor servir a humanidade durante a minha vida?” Você é uma pessoa idealista e perfeccionista, e se esforça ao extremo para atingir os objetivos que identificou para si mesmo.
Você é muito intuitivo sobre as pessoas. Você conta totalmente na sua intuição para te guiar, e usa suas descobertas para buscar constantemente o valor da vida. Você está numa missão contínua para encontrar a verdade e o significado das coisas. Cada interação e cada pedaço de sabedoria adquirida é filtrada pelo seu sistema de valores, e avaliada para ver se existe algum potencial para lhe ajudar a definir ou refinar mais ainda seu próprio caminho na vida. A meta final é sempre a mesma – você se esforça para ajudar as pessoas e para fazer do mundo um lugar melhor.
Em geral, uma pessoa gentil e de muita consideração, você é um bom ouvinte e deixa as pessoas à vontade. Mesmo que reservado ao expressar suas emoções, você se importa demais com os outros, e é genuinamente interessado em entender as pessoas. Esta sinceridade é percebida pelos outros, fazendo de você um amigo especial, e em que se pode confiar. Você geralmente é muito caloroso com as pessoas que você conhece bem.
Você odeia conflitos, e faz o que puder para evitá-los. Se você precisa encará-los, será sempre utilizando a perspectiva dos seus sentimentos. Em situações de conflito, você dá pouca importância para quem está certo e quem está errado. Você presta atenção à maneira com que você se sente quanto ao conflito, e não se importa muito se seus sentimentos estão ou não corretos. Você simplesmente não quer se sentir mal. Essa característica às vezes faz com que você aparente ser uma pessoa irracional e ilógica em situações de conflito. Por outro lado, você faria um ótimo papel de mediador, e tem facilidade de resolver os conflitos dos outros, porque você entende intuitivamente as perspectivas e os sentimentos das pessoas, e quer genuinamente ajudá-las.
Você é flexível e despreocupado, até que um de seus valores seja violado. Assim, se seu sistema de valores está sendo ameaçado, você pode se tornar agressivo, lutando com muita garra e paixão por sua causa. Quando você começa um projeto no qual se interessa, é muito comum que este se torne uma “causa” para você. Apesar de você não ser uma pessoa focada em detalhes, você cobrir cada detalhe necessário com vigor e determinação, enquanto lutando por essa sua causa.
Quanto a detalhes mundanos da vida (como lavar, limpar, passar, etc), você praticamente não está ciente deles. Você pode passar meses sem perceber as manchas no carpete, mas você cuidadosamente e meticulosamente remove aquele filetinho de poeira que caiu em cima do seu caderno de projetos.
Você não gosta de ter que lidar com fatos concretos e com lógica. Seu enfoque pessoal nos seus sentimentos e na condição humana torna difícil que você lide com decisões impessoais. Você não compreende nem acredita na validade de uma decisão que não leva as pessoas em consideração, fazendo de você uma péssima pessoa para tomar esse tipo de atitude. Você provavelmente evitará análises impessoais, apesar de poder desenvolver esta capacidade, e de conseguir ser bastante lógico. Sob estresse, é comum que você utilize a lógica de uma maneira errada quando, por exemplo, num momento de raiva, em que você cita fato após fato (e geralmente não completamente corretos) em uma explosão emocional.
Você tem padrões altíssimos e é um perfeccionista. Conseqüentemente, você é muito duro consigo mesmo, e não dá muito valor às suas conquistas. Você pode acabar tendo problemas na hora de trabalhar em um projeto em grupo, pois seus critérios e padrões tendem a ser bem mais altos do que os do resto do grupo. Nessas situações, você pode ter um problema de “controle”. Você precisa tentar equilibrar seus ideais com suas necessidades do dia-a-dia. Sem resolver este conflito, você nunca ficará feliz consigo mesmo, e pode ficar confuso e paralisado quanto ao que fazer de sua vida.
Pessoas como você geralmente são escritores talentosos. Você pode se sentir esquisito e desconfortável em se expressar verbalmente, mas você tem uma capacidade maravilhosa de definir e de expressar no papel o que você está sentindo. Você também gosta de participar de profissões de cunho social, como na área de aconselhamento ou de educação. Você se encontra o mais confortável e feliz possível quando trabalha pelo bem das pessoas, e onde você não precisa usar lógica intensamente.
Se você desenvolver suas potencialidades você poderá realizar feitos maravilhosos, apesar de que provavelmente você nunca irá reconhecê-los como tais. E lembre-se: algumas das pessoas que mais causaram desenvolvimentos humanísticos no mundo foram pessoas como você.

Ciclo


"Todo dia ela faz tudo sempre igual..."
Arranca-se à força da cama.
Trabalha e espera.
Os dias com mais contato doem mais e menos,
depende do tom do contato.
Oscilação.
*
"Tem dias que à noite é foda..."
O ritual está mais do que impregnado.
Gatos. Laptop. Músicas tristes. Posts. Lágrimas. Desespero. Cama.
E vamos dormir, porque você só tem 10 minutos! E amanhã recomecerá tudo outra vez.
Pressão alta.
*
Não foi sempre assim.
Saudade de quando enxergava o Cotidiano em visão poética.
Saudade das gargalhadas, das mil e uma histórias.
Saudade de sentir seu coração mais terno e em paz.
*
Coragem.
Morre um pouco por dia pensando na ressureição no fim do ano.
Não se entrega.
Admiro.
*
Sei que a essência está salva.
E mesmo que a cota de paciência comigo tenha estourado,
continuarei observando de longe.
Sempre.
Promessa é dívida.

Gikovate

"Entre amor e individualidade, opto pela segunda. Faço isso ciente de que ela implica a morte do amor romântico, a meus olhos o grande vilão da história. O final é feliz porque determina a supressão de uma gama enorme de sofrimentos inúteis e dilacerantes. Libertos do anseio de fusão - que entendo como algo que aponta para o passado, e não para a frente - , indivíduos podem seguir seu caminho na direção da autonomia e da liberdade. Livram-se definitivamente da obsessão de procurar alguém de quem depender ou que dependa deles. A dependência recíproca sempre foi buscada com o intuito de atenuar a sensação - inexorável - de desamparo.
(...)
Teremos avançado na questão sentimental quando nos dedicarmos menos a ela.
(...)
Sofremos muito no início diante da idéia de que temos de nos bastar e conseguir ficar bem sozinhos; mas, com o passar do tempo, lembramo-nos cada vez menos daquela droga - ou da dependência romântica.
(...)
A sensação de desamparo vai sendo substituída pelo bem-estar que deriva da auto-suficiência. Essas vivências correspondem a um período de grande evolução e amadurecimento emocional: em vez de sermos adultos com carências típicas de crianças, passamos a encontrar forças para cuidar de nossas 'feridas'. "

Diário de Bordo - 3° dia


"Além do horizonte existe um lugar..."
É o som que vem sala (Roberto Carlos 50 Anos).
Lá de fora vem o barulho da chuva caindo.
O ar está mais úmido e frio essa noite.
Levantei tarde outra vez.
Tomei café e comecei a ajudar na faxina da casa.
Tive um momento de muita irritação.
Minha mãe pediu para meu irmão ajudar na limpeza e minha tia, não concordando, disse:
- Ah, magiiina! Com três mulheres aqui não precisa ele ajudar!
E então meu irmão foi ao encontro do meu pai e meu avô. Ficaram os três no quintal, onde os homens ficam papeando enquanto as mulheres trabalham na casa.
Definitivamente, não nasci para uma vida assim. Terminei minha parte e fui caminhar.
Respiração ofegante em poucos segundos.
Fora de forma.
Durante o percurso pude fazer o que sempre tive vontade nas ruas de São Paulo: olhar nos olhos e cumprimentar todo e qualquer estranho que encontrasse.
Foi legal, mas aqui nenhum deles é um real estranho. É tudo parente. Eu não os conheço, mas eles me conhecem... "Lá vai a Paulistaninha, neta do Tio Tônho..."
Quando encontrei um bom lugar para sentar encerrei a caminhada.
Pico da serra.
Hora do almoço, mas parecia mais tarde.
Hoje não teve sol.
As nuvens dançavam rapidamente, preprarando caminho para a chuva noturna.
Escolhi um ponto bem alto para ficar.
Eu queria me sentir mais perto Dele. Conversamos depois de muito tempo e eu Lhe agradeci muito. Pedi-Lhe forças. e foi como com Belmont, senti suas carícias com o vento.
A tarde minha mãe me levou para conhecer o sítio que ela e meu pai querem comprar. Juro, durante todo o tempo me esforcei para demonstrar agrado pelo lugar, mas foi bem difícil.
Na volta passamos na casa de uma Tia-Avó. Eu não queria descer do carro, a chuva já por cair, eu cansada querendo banho... Mas desci. E quando a Tia-Avó me viu disse:
- Que bom que você veio! Gosto tanto de você! - e essa última frase foi dita durante um dos melhores abraços que já ganhei.
Já comentei aqui o quanto gosto de abraços? Abraços bem dados. Abraços Sinceros. Abraços que dispensam palavras!
Ela nos ofecereu bolo e café! Sim, café... E foi o café mais gostoso que já tomei!
Quando de volta na casa do meu avô (foto), fiquei um bom tempo no quarto, sozinha com meu pai, conversando. Até então tinhamos trocado três frases.
Foram mais de 30 minutos de conversa tranquila. Minha mãe já não se cabia em si de tanta curiosidade.
A noite terminou com todos na sala. Minha tia e eu tentando traduzir as frases indianas da novela.
Todos rindo bastante.
No coração até deu pra sentir um sopro de esperança.

Tréplica


E no único momento do dia que consegui não pensar em você...
Veio a sua mensagem.
Quero enganar a quem?
Não foi a Joss que me acompanhou no último capítulo.
Depois de desabraçar e, enfim, despedaçar
foi a voz do Jorge que veio:
"Esse amor
hoje vai pra nunca mais voltar
como faz o velho pescador
quando sabe que é a vez do mar.
Qual de nós foi buscar o que já viu partir,
quis gritar, mas segurou a voz,
quis chorar, mas conseguiu sorrir?"

Joss


"Vida deveria ter trilha sonora" dizem...
A minha não só têm trilha como ela toda é um seriado sem fim.
Com capítulos calmos daqueles com apresentação dos personagens, com outros capítulos onde se conhecem os conflitos, outros com situações engraçadíssimas, outros onde tudo dá errado e outros capítulos cheios de inércia como o de hoje, onde ficar deitada mexendo no computador é tudo o que consigo fazer...
Já tem dias que penso em uma música para definir o tema dessa temporada (que, graças a Deus, chega ao fim!)...
Achei hoje.
*
*
"I've got a right to be wrong
My mistakes will make me strong
I'm stepping out into the great unknown
I'm feeling wings though I've never flown
I've got a mind of my own
I'm flesh and blood to the bone
I'm not made of stone
Got a right to be wrong
So just leave me alone
I've got a right to be wrong
I've been held down too long
I've got to break free
So I can finally breath
I've got a right to be wrong
Got to sing my own song
I might be singing out of key
But it sure feels good to me
Got a right to be wrong
So just leave me alone"

Réplica


Machuca encantar-se sem correspondência.
Machuca mais ainda perceber a causa do encanto uma invenção própria.
Idealização.
Ilusão de Ótica.

Desabafo


E eu chorei feito uma desenganada. Feito criança contrariada. Feito quem ama e não conhece a alma amada.
Ela chegou, ficou de longe, mas em certo momento disse: "Amor da minha vida...!" E mandou um beijo pelo ar...
Mal sabe ela o quanto eu queria esse beijo, o quanto eu fugi desse beijo...
A noite foi muito agradável. A Roda que nos cercava envolvia, entretia, divertia...
Mas nada, nada além dela chamaria a atenção nessa noite. A noite era dela.
Palvras trocadas. Segredos revelados.
Cá termino eu a noite, entre as lágrimas da saudade precipitada e o alívio do peso.
Eu te amo.
Mais do que gostaria.
Mais do que as pessoas entenderiam.
Mais do que me é permitido amar agora.
Mas eu te amo..

Diário de Bordo - 2° dia


Na cama nas alturas novamente. Tentando me concentar na escrita. Ouço pessoas conversando na sala (hoje tem mais uma: tia Tita), ouço algum animal andando perto da janela e também ouço meu irmão se revirando na cama.
O dia passou que nem vi. Acordei cedo, mas levanei tarde. Fiquei deitada pensando, pensando, pensando...
Tomei café e fui pro banho com água bombeada do poço. Água boa para o cabelo, dizem. Quanto mais cedo você tomar seu banho menos frio você passa.
Depois do banho minha mãe pediu que a acompanhasse na casa de sua comadre. Pensei comigo: "Pronto, vai começar a Via Sacra pelas casas dos parentes e a bebeção de café".
Aqui você precisa aceitar a xícara de café que em São Paulo é oferecida (isso quando é) por educação.
Na minha última estada nós visitamos quatro casas em um dia. Foram quatro xícaras de café seguidas. É muito para quem não gosta.
Lá fomos nós...
Assim que entramos avistei minha salvação do tédio no colo da comadre. Lavínia, 2 anos e muita personalidade. Conversamos horrores.
Vez por outra eu me desconectava da conversa mirim para prestar atenção no diálogo de comadres e assim saber quando dizer sim para o café:
- Comadre, como está ficando linda a casa nova de vocês!
- Tá mesmo, você já entrou lá?
- Não, mas depois eu vou.
- Vai sim, Você precisa ver o tamanho da cozinha!
Mineiro não muda, adora cozinha. Logo, logo vem a oferta do café... Certeza!
- Senta ai comadre...
Começa assim!
- Vocês não querem um gole de...
Olha ele aiiii....!
-... vinho?
OPA! Sérá que eu ouvi direito, vinho??
- Quer um gole de vinho? É uma delícia o vinho que o Luiz trouxe.
-Quero sim! - Respondi finalmente.
E foi tomando vinho que continuei minha conversa com a Lavínia.
Depois do almoço voltamos à civilização (leia-se confusão). Fomos até a cidade buscar minha tia. Minha mãe aproveitou para ir ao mercado. Meu irmão e eu fomos para o Cristo (de bondinho!).
Conversamos bastante. Ele tem um carinho e admiração por mim sem tamanho. Gosto de senti-los.
Demos umas voltas pelas praças (e como tem praças!) e em uma delas acontecia um ensaio da Orquestra Sinfônica. Fiquei encantada e com vontade de contar para alguém. Vontade de completar a ligação e dizer que tudo corre bem, que eu tive uma vista linda do Cristo e que naquele momento o solo de violino me arrepiava.
Mas para quem eu ligaria? Com que eu poderia dividir conquistas tão pequenas? Seria perfeito contar para um Par. O meu Par...
Mas será que tenho um?
Ao término do solo ficou a dúvida e o celular fechado na mão.



Diário de Bordo - 1° dia



Deitada em uma cama de casal de colchão velho. Dica da Mamma: mais um colçhão de solteiro por cima do velho e a cama ficou boa. Nas alturas.

Meu irmão está no quarto comigo. Escrevo com a ajuda de uma lanterninha para não incomodar o sono dele.

Eu disse antes de vir para cá: "Parece que estou deixando minha família aqui e estou indo viajar com pessoas não tão íntimas..." Cruel, mas a sensação é essa mesmo.

No entanto, o clima não está ruim. Todos estão contentes por eu estar perto. Essa sensação de não-intimidade, essa distância (que tanto já machucou) tem um lado positivo. Estou sendo tratada como visita. E as visitas são bem tratadas, paparicadas.

Não dormi essa noite e estou bastante cansada. Meu estômago está estranho (ando abusando de novo). Demoramos mais de 3 horas para chegar. Não consegui dormir no caminho. Meu pai veio no banco de trás comigo. Tentava disfarçar, mas me olhava muito.

(Meu irmão está falando enquanto dorme. Medo!)

Meu avô nos recebeu com sorriso e abraço apertado. Desci do carro, coloquei minha mala no quarto e logo fui realizar o desejo que me fez aceitar o convite para a viagem. Caminhei um pouco pela grama, escolhi um espaço menos sujo, sentei (pernas de borboletas) e comecei a fitar o lugar.

Bem devagar...

Montanha por montanha, árvore por árvore, nuvem por nuvem, verde por verde...
Minha cabeça sofre com superlotação de pensamentos. Ficar quieta, em tempo indeterminado, em um lugar aberto/grande/calmo/bonito ajuda a organizar a bagunça.
A simplicidade aguda desse lugar torna ridículas as complicações da "cidade grande". A correria, a loucura pelo consumo, competição, a necessidade de saber, entender e controlar tudo...
Aqui a vida simplesmente é ao invés de 'precisar ser'.
Depois do almoço subi uma das montanhas. O pé de uma cruz enorme foi o lugar escolhido para sentar novamente e continuar a organização dos arquivos mentais.
Pensei na faculdade, no trabalho, na Roda, na vontade de sair ilesa dessa viagem. Fechei o olhos e senti muito fortemente a presença dele, meu complemento Belmont.
Companheiro incansável de divagações, devaneios, desabafos, desilusões... Mas o desejo central nem foi de sua conversa. Queria apenas que estivesse ao meu lado, sentado na grama, joelhos dobrados e envolvidos pelos braços. Fitando a paisagem em silêncio comigo. Comparilhando a mesma sensação. Sentindo a reciprocidade dessa sensação sem precisar dizer uma única palavra.



Lição de Casa


"(...)
O amor te escapa entre os dedos
E o tempo escorre pelas mãos
O sol já vai se pôr no mar
Saber amar
É saber deixar alguém te amar
..."

Viva La Vida


Ontem fui para o nosso lugar.
O lugar onde nos encontramos, quase que religiosamente, sem marcar.
Mas como é legal saber que você vai estar lá.
Chegar, te cumprimentar e passar o resto da noite esbarrando em você.
Pensando o tempo todo: Qual de nós vai tomar a iniciativa hoje?
Já me acostumei ao ponto de um lugar tão familiar passar a estranho quando você não está.
Ontem foi assim.
Não consegui dançar a nossa música. Fui para área externa e fiquei sentada ao lado do seu coqueiro pensando... Lembrando...
No encontro passado, a mesma música começou a tocar e eu estava na pista sem você. A vontade de você, nesse momento, foi tão grande que não consegui permanecer lá.
Avisei meus amigos, fui pedindo licença paras as pessoas, abri a cortina da saída, levantei os olhos e avistei.
Lá estava você (!),
descendo as escadas.
Ao me ver você disse: "Essa música..."
Te interrompi dizendo apenas: "Eu sei."
E te levei pela mão.
Dançamos a nossa música.
Nos beijamos.
E nesse momento,
inusitadamente,
não me senti mais sozinha.

Educando com Preconceito


Estava eu substituindo uma professora em uma sala com crianças de 5 anos.
Momento do parque. Um dos meninos vem correndo ao meu encontro se queixar:
-Tia, tia, tia! Eles estão puxando a blusa da minha cabeça!
Ele estava brincando com uma blusa na cabeça, encaixava o capuz na cabeça e a blusa toda ficava solta nas costas.
Logo atrás dele, vieram outros dois meninos, e a conversa se inicia:
- Tia, são eles, eles que estão puxando a blusa da minha cabeça!
- Por que vocês estão fazendo isso?
- Ah tia... Porque ele quer ser menina!
Nesse momento o menino com a blusa na cabeça se afastou, como quem não gostou muito do rumo que a conversaia tomar.
Interessada na opinião dos meninos, continuei:
- Por que você acha que ele quer ser menina?
-Porque sim tia! Porque ele já disse pra mim que quer ser menina! Ele fica usando essa blusa na cabeça pra fingir que tem cabelo comprido! Porque ele usa batom!
Com a responsabilidade de educar que todo professor carrega, comecei a me questionar quanto ao que fazer em situações como essa. O que eu poderia responder para esse menino? Eu poderia dizer: "Não, seu colega não quer ser menina. Pare de falar isso por aí e deixe ele brincar como quiser com a blusa!" Ou ainda, eu poderia iniciar uma discussão dizendo: "Talvez ele queria ser menina mesmo, algumas pessoas não se sentem muito a vontade com o corpo que nascem..." E provavelmente esse caminho me levaria à duas reuniões: uma com a direção da escola e outra com as famílias dos alunos.
Sem saber o que fazer e tendo em vista que a turma não era minha, perguntei para o garoto revoltado:
- Você não usa batom?
-Eu não tia! Não sou menina e nem quero ser!
Tirei meu batom neutro do bolso, aqueles de Manteiga de Cacau que a gente usa no inverno, mostrei pra ele e disse:
- Nem esse batom aqui você usa?
Visivelmente contrariado ele respondeu:
- Esse ai... As vezes minha mãe passa em mim, quando tá frio...
- E você acha que vai se tornar uma menina por usar esse batom?
- Não tia...
-Deixe seu colega brincar como ele quiser, certo?
- Tá bom...
Mas nem de longe fique satisfeita com a forma como conduzi a situação. Passei dias pensando nisso. Tive vontade de ir conversar com a professora da turma e tentar perceber nessa conversa se conflitos como esse sempre aconteciam. Assim o fiz. Relatei mais ou menos o ocorrido e ela disse:
- Ah menina... Isso sempre acontece! Ano passado o D. (menino da blusa na cabeça) deixou toda a Secretaria de Educação dessa cidade de cabeço em pé! Ninguém sabe o que fazer com ele...
-E como a senhora resolve os conflitos? Como lida com ele?
- Eu estou trazendo muitas coisas masculinas e deixo a disposição dele. E tiro do alcance qualquer objeto feminino que ele possa querer usar.
- Entendi...
Preciso situar a professora da turma. Ela tem muitos anos de docência e é adepta de uma doutrina religiona muito rígida.
Esse fato me fez, ainda, ter vontade de conversar com outras pessoas sobre o assunto. Fiquei pensando se levaria ou não a questão para a sala de professores da minha escola. Eu estava quase introduzindo o assunto quando uma das professoras nos chamou a atenção para alguns desenhos que estavam na parede:
- Olha meninas a professora dessa sala está trabalhando profissões! Tem vários desenhos de Veterinário e Veterinária.
Outra professora notou:
- Ali tem um desenho de Paisagista!
- Ah é? Mas é de uma menina né?
Eu, mais que depressa:
- Por que tem que ser de uma menina?
A docente sem saber direito o que responder... Resmungou:
- Ah gente... Preconceitos...
Ninguém disse mais nada. As outras seis professoras que estavam na sala não se manifestaram... E então, por hora, desisti de falar sobre o menino da blusa na cabeça.