Goldfish Memory


Em uma tarde dessas que a gente aluga milhões de filmes para assistir, conheci,em um deles, uma teoria.
“A memória de um peixinho dourado dura só três segundos"
Seguindo esse raciocínio, depois de completar uma volta pelo aquário, tudo é esquecido e assim, na próxima volta tudo será novidade.
Se há mais de um morador no aquário, cada vez que dois peixinhos se vêem é como se fosse a primeira vez.
No filme essa teoria é comparada às paixões humanas. De acordo com a metáfora, cada nova paixão é como se fosse a primeira vez, como se as boas e más lembranças de um antigo amor pudessem ser cicatrizadas e esquecidas rapidamente em nome do novo fogo que arde sem doer.
E logo as boborletas no estômago aparecem de novo, as mãos gelam, e todos aqueles sintomas de paixonites retornam, iguais.
Fiquei dias com essa teoria na cabeça. Conheço pessoas que são assim.
Eu não sou (ou não estou). Não consigo me permitir outra vez.
Faço minhas as palavras de Fagner:
"Quem dera ser um peixe..."

O Quadro


Mais de um ano atenta,
deixando as portas e janelas abertas...
Para ninguém entrar.

Visitas vieram,
conversas daquelas em pé,
encostada no batente da porta.
Coisa rápida.

Teve conversa rápida que durou três encontros,
outras quatro,
outras longas horas no MSN...
Mas não sai ali do batente.

O que dizer de dez minutos?
Pois bem, ontem, dez minutos bastaram.
Só não sei como fazer o convite para a sala de estar...

Prefixo do Fim



Desenredo,
descompasso,
desestímulo,
desesperança,
desconforto...

Descoberta: desilusão,
desamor,
desafeto
desapego.

Destino: desatar,
desanexar,
desprover,
descontinuar.

Desamparo...
Destruído...
Desabafo...!

Destino?
Destilado.


(Daquelas anotações e rabiscos que se faz em uma aula chata.)

Páscoa


Feriado cristão se aproximando e a dúvida de sempre aparece: ir ou não ir para o almoço de família?
Durante o caminho a preparação psicológica se inicia: "Vai ser rápido" ... "É só não se apronfundar em conversa nenhuma e ficará tudo bem"... Relações e contatos completamente superficiais. Um jogo teatral onde todos os personagens se esforçam para esconder seus problemas em nome do Oscar (entenda-se por Oscar: direito de falar mal do outro).
Sim, sempre vou com o escudo à frente.
No entanto, hoje a Matriarca Maior me desarmou. Cresci ouvindo dos meus amigos: “Como sua avó é nova” ... “Que vovó forte você tem!” ... Hoje ela estava em câmera lenta. Andando devagar. Nos olhando devagar. Falando devagar... Passei a tarde observando e tentando tomar coragem para lhe abraçar apertado, dizer que ela é uma mulher de muita fibra por ter criado 9 filhos sem ajuda alguma... Mas minha camisa de força invisível à prova de afetos familiares não deixou.
No momento em que ela veio entregar a balinha de todos os anos (que ela entrega no final da tarde, mesmo sabendo que todos o netos já não conseguem mais andar de tanto comer), olhei bem nos seus olhos e agradeci. Para ela o agradecimento foi pela balinha, mas eu estava agradecendo por tudo.

Devaneio sobre o ofício

O que você sente quando segura a mão de uma criança? Ou ainda, o que você sente quando uma criança segura sua mão?
Ela aperta!
Gosta de segurar direitinho.
A pele é macia, novinha...!
Esse corpinho novo busca andar com seu auxílio, quer orientação e, sobretudo, segurança.
O fato engraçado está em alguém que está no auge da sua insegurança e falta de direção servir de sustento e rosa dos ventos.