Joss


"Vida deveria ter trilha sonora" dizem...
A minha não só têm trilha como ela toda é um seriado sem fim.
Com capítulos calmos daqueles com apresentação dos personagens, com outros capítulos onde se conhecem os conflitos, outros com situações engraçadíssimas, outros onde tudo dá errado e outros capítulos cheios de inércia como o de hoje, onde ficar deitada mexendo no computador é tudo o que consigo fazer...
Já tem dias que penso em uma música para definir o tema dessa temporada (que, graças a Deus, chega ao fim!)...
Achei hoje.
*
*
"I've got a right to be wrong
My mistakes will make me strong
I'm stepping out into the great unknown
I'm feeling wings though I've never flown
I've got a mind of my own
I'm flesh and blood to the bone
I'm not made of stone
Got a right to be wrong
So just leave me alone
I've got a right to be wrong
I've been held down too long
I've got to break free
So I can finally breath
I've got a right to be wrong
Got to sing my own song
I might be singing out of key
But it sure feels good to me
Got a right to be wrong
So just leave me alone"

Réplica


Machuca encantar-se sem correspondência.
Machuca mais ainda perceber a causa do encanto uma invenção própria.
Idealização.
Ilusão de Ótica.

Desabafo


E eu chorei feito uma desenganada. Feito criança contrariada. Feito quem ama e não conhece a alma amada.
Ela chegou, ficou de longe, mas em certo momento disse: "Amor da minha vida...!" E mandou um beijo pelo ar...
Mal sabe ela o quanto eu queria esse beijo, o quanto eu fugi desse beijo...
A noite foi muito agradável. A Roda que nos cercava envolvia, entretia, divertia...
Mas nada, nada além dela chamaria a atenção nessa noite. A noite era dela.
Palvras trocadas. Segredos revelados.
Cá termino eu a noite, entre as lágrimas da saudade precipitada e o alívio do peso.
Eu te amo.
Mais do que gostaria.
Mais do que as pessoas entenderiam.
Mais do que me é permitido amar agora.
Mas eu te amo..

Diário de Bordo - 2° dia


Na cama nas alturas novamente. Tentando me concentar na escrita. Ouço pessoas conversando na sala (hoje tem mais uma: tia Tita), ouço algum animal andando perto da janela e também ouço meu irmão se revirando na cama.
O dia passou que nem vi. Acordei cedo, mas levanei tarde. Fiquei deitada pensando, pensando, pensando...
Tomei café e fui pro banho com água bombeada do poço. Água boa para o cabelo, dizem. Quanto mais cedo você tomar seu banho menos frio você passa.
Depois do banho minha mãe pediu que a acompanhasse na casa de sua comadre. Pensei comigo: "Pronto, vai começar a Via Sacra pelas casas dos parentes e a bebeção de café".
Aqui você precisa aceitar a xícara de café que em São Paulo é oferecida (isso quando é) por educação.
Na minha última estada nós visitamos quatro casas em um dia. Foram quatro xícaras de café seguidas. É muito para quem não gosta.
Lá fomos nós...
Assim que entramos avistei minha salvação do tédio no colo da comadre. Lavínia, 2 anos e muita personalidade. Conversamos horrores.
Vez por outra eu me desconectava da conversa mirim para prestar atenção no diálogo de comadres e assim saber quando dizer sim para o café:
- Comadre, como está ficando linda a casa nova de vocês!
- Tá mesmo, você já entrou lá?
- Não, mas depois eu vou.
- Vai sim, Você precisa ver o tamanho da cozinha!
Mineiro não muda, adora cozinha. Logo, logo vem a oferta do café... Certeza!
- Senta ai comadre...
Começa assim!
- Vocês não querem um gole de...
Olha ele aiiii....!
-... vinho?
OPA! Sérá que eu ouvi direito, vinho??
- Quer um gole de vinho? É uma delícia o vinho que o Luiz trouxe.
-Quero sim! - Respondi finalmente.
E foi tomando vinho que continuei minha conversa com a Lavínia.
Depois do almoço voltamos à civilização (leia-se confusão). Fomos até a cidade buscar minha tia. Minha mãe aproveitou para ir ao mercado. Meu irmão e eu fomos para o Cristo (de bondinho!).
Conversamos bastante. Ele tem um carinho e admiração por mim sem tamanho. Gosto de senti-los.
Demos umas voltas pelas praças (e como tem praças!) e em uma delas acontecia um ensaio da Orquestra Sinfônica. Fiquei encantada e com vontade de contar para alguém. Vontade de completar a ligação e dizer que tudo corre bem, que eu tive uma vista linda do Cristo e que naquele momento o solo de violino me arrepiava.
Mas para quem eu ligaria? Com que eu poderia dividir conquistas tão pequenas? Seria perfeito contar para um Par. O meu Par...
Mas será que tenho um?
Ao término do solo ficou a dúvida e o celular fechado na mão.



Diário de Bordo - 1° dia



Deitada em uma cama de casal de colchão velho. Dica da Mamma: mais um colçhão de solteiro por cima do velho e a cama ficou boa. Nas alturas.

Meu irmão está no quarto comigo. Escrevo com a ajuda de uma lanterninha para não incomodar o sono dele.

Eu disse antes de vir para cá: "Parece que estou deixando minha família aqui e estou indo viajar com pessoas não tão íntimas..." Cruel, mas a sensação é essa mesmo.

No entanto, o clima não está ruim. Todos estão contentes por eu estar perto. Essa sensação de não-intimidade, essa distância (que tanto já machucou) tem um lado positivo. Estou sendo tratada como visita. E as visitas são bem tratadas, paparicadas.

Não dormi essa noite e estou bastante cansada. Meu estômago está estranho (ando abusando de novo). Demoramos mais de 3 horas para chegar. Não consegui dormir no caminho. Meu pai veio no banco de trás comigo. Tentava disfarçar, mas me olhava muito.

(Meu irmão está falando enquanto dorme. Medo!)

Meu avô nos recebeu com sorriso e abraço apertado. Desci do carro, coloquei minha mala no quarto e logo fui realizar o desejo que me fez aceitar o convite para a viagem. Caminhei um pouco pela grama, escolhi um espaço menos sujo, sentei (pernas de borboletas) e comecei a fitar o lugar.

Bem devagar...

Montanha por montanha, árvore por árvore, nuvem por nuvem, verde por verde...
Minha cabeça sofre com superlotação de pensamentos. Ficar quieta, em tempo indeterminado, em um lugar aberto/grande/calmo/bonito ajuda a organizar a bagunça.
A simplicidade aguda desse lugar torna ridículas as complicações da "cidade grande". A correria, a loucura pelo consumo, competição, a necessidade de saber, entender e controlar tudo...
Aqui a vida simplesmente é ao invés de 'precisar ser'.
Depois do almoço subi uma das montanhas. O pé de uma cruz enorme foi o lugar escolhido para sentar novamente e continuar a organização dos arquivos mentais.
Pensei na faculdade, no trabalho, na Roda, na vontade de sair ilesa dessa viagem. Fechei o olhos e senti muito fortemente a presença dele, meu complemento Belmont.
Companheiro incansável de divagações, devaneios, desabafos, desilusões... Mas o desejo central nem foi de sua conversa. Queria apenas que estivesse ao meu lado, sentado na grama, joelhos dobrados e envolvidos pelos braços. Fitando a paisagem em silêncio comigo. Comparilhando a mesma sensação. Sentindo a reciprocidade dessa sensação sem precisar dizer uma única palavra.