"Será que a sorte virá num realejo...? "


- Vamos lá Cristina, vamos tirar a sorte para esse moça... Casada ou solteira moça?
- Solteira.
- Solteira Cristina, sorte para uma moça solteira... Tira o papelzinho, isso... Solteira hein Cristina! Isso... Agora dá um beijinho, isso...! Faz pose pra foto Cristina! Agradece a moça...!


O papelzinho rosa de Cristina veio pra dizer que terei uma vida amorosa conflituosa e que, no fim, vou me casar com alguém que não dei bola no início... Mas que essa pessoa vai laçar meu coração depois e teremos 3 filhos!
Disse tudo isso e ainda me deu números para a loteria! rs

Encontrei misticidade e simpatia na Liberdade, em pleno reencontro com a cidade da garoa: daqueles momentos que se grava com as lentes da mente.


Ironic Little



A depressão e a dor vivenciadas na separação dos amantes é dor de morte: é saber que estamos morrendo na consciência do outro. Morrendo no outro e matando-o dentro de nós. A "mágica" do amor transforma uma pessoa "neutra" em ímpar, única e indispensável. A ruptura deverá produzir a "mágica" inversa, a de trazer a pessoa especial de volta à condição de pessoa comum. O que nem sempre acontece. (Gikovate)




Um de repente.

“Vou tomar banho e vou, você me espera?”

Jeans e allstar branco, mechas californianas, uma hora e meia depois, lá estava ela. Um abraço desabraçado de Oi, certa estranheza inicial, mas passou rápido.

Sem pensar muito (raridade), quando vi a sala estava cheia: gente da família-sanguínea, da família-escolhida, da vinhança, gente dicotômica, gente desconhecida. Tudojuntoemisturado e ela lá, estando sem estar. Conversando, tentando distrair-se a si. Tirando de letra o social. Não topou o Uno, mas aceitou ensinar Yoga e até arriscou um Ballet.

“E aí gente, qual é a da cerveja?”

Fui buscar. Vamos todos beber e assim chorar para dentro. Porém, beber apenas não basta, fome. Opção vegetariana que na capital não tem. Atendidos pela Virna do Voley, lanche errado e cerveja congelada. Mas tudo bem, a conversa estava boa o suficiente para nos arrastar até as duas da manhã frio adentro.

Já em casa:“E ai, o que você me diz agora que estamos sozinhas?” Na verdade eu queria dizer: Pronto, não precisa mais disfarçar, solta. Mas ela veio decidida a não chorar. Durona e orgulhosa sim, mas o sentimento que segurava as lágrimas era outro: o cansaço. Nitidamente exausta e desgastada, veio buscar ajuda pra não deixar a cápsula protetora se quebrar. Afinal, fechar-se la dentro foi custoso demais para deixar destruir assim, ao primeiro contato.

Falar é terapia para ela. Relembra, reconta, repensa ao se ouvir. Pede opiniões… A confusão que lhe causam é devastadora ao ponto de ser preciso consultar alguém. Mesmo ela, apreciadora das análises comportamentais, não consegue mais sozinha.

Sono até as 14 horas dispensa café da manhã, arroz com brócolis direto. “Come sim, porque você tem gastrite e precisa”, eu quase disse: se comer tudo ganha chocolate depois. Reprimi a frase porque ela ganharia o doce de qualquer forma.

Tudo sob controle até me lembrar o motivo que desencadeou sua vinda. “O importante é você sair dessa internet”. Não adiantou. As coisas acontecem de qualquer forma. Mas dessa vez, pude dar o abraço ao invés de enviar um (}).

Foi a tristeza que motivou sua vinda e foi também ela que determinou a hora da volta. Ironia do destino? Rodoviária. Guichê. Um último café. Abraço bem abraçado na despedida, sem estranheza agora. “Obrigada”, “Me avisa quando você chegar”… Roteiro da despedida cumprido.

A mania de sempre dar trilha sonora à vida logo trouxe uma faixa. Voltei pra casa me sentindo irmã mais velha com tarefa feita, cantarolando Legião e desejando, do fundo do meu coração, que essa dor de morte passe.



“Disseste que se tua voz tivesse força igual a imensa dor que sentes, teu grito acordaria não só a tua casa, mas a vizinhança inteira.” (8)