Pássaro mexicano


Eu senti desde o primeiro dia.
Se espírita fosse poderia explicar dizendo que aquele momento foi um reencontro.
Sim, reencontro: eu estava de novo próxima a alguém muito querida.
Existe uma força estranha que nos pede perto.
Magneton sim, mas não a pessoa, a relação.
Natureza do vínculo confundida?
Antepassado.


Deitadas, uma na cama outra no chão.
"- Fico no seu quarto pra você conseguir terminar de arrumá-lo."
Almoço construído e dividido.
Experiências trocadas: roupas e crochê.
"Vamos passear?"
Ritual do suco de sábado compartilhado.
Energias muito bem combinadas: "Vocês são irmãs?"
Vida com nova (s) planta (s)!

Gratidão

Há tempos frases de Roda rodeiam-me. Alguns escritos são por mim evitados por conter carga pesada, dava para colocar aquele aviso "FRÁGIL - Pode quebrar!".
Podem ser os dias do tal inferno astral, mas é fato, emociono-me muitíssimo quando penso nas pessoas de minha vida. Diversas e diversificadas, cada uma ao seu jeito ajudou a moldar a pessoa que escreve.
Há o irmão-vizinho: Sempre disse por aí que o conhecia desde os 2 anos. Bobagem, nossa foto datando meus 11 meses de vida comprova: irmão de berço! Muitas e muitas tardes brincando sem intervalos no quintal de casa: “Ana, deixa ele ir brincar comigo em casa, minha mãe deixou!” E aquelas férias ininterruptas de jogos no Nintendo?! “Não quero jogar contra você, só no mesmo time”, claro, eu sempre perdia.
Como foi difícil me afastar dele. O medo de ser rejeitada era tão grande que prefiri rejeitar primeiro. O tempo passou e ele continuava insistindo: “Vamos tomar um lanche? Como você está? Sinto saudades...”
Um dia a armadura foi deixada em casa e saímos... “Você sabe que eu sempre fui um cara religioso, mas para algumas questões eu procuro usar meu coração e você nunca saiu dele”, foi o que ele disse, e eu chorei compulsivamente.
Há a irmã-da-escola: Coleguinha de sala da pré-escola. Desde sempre séria, em alguns momentos amarga, reflexos de uma criação. Era bom saber que ela estava sempre lá, mesmo que em muitos momentos eu não merecesse, sua fidelidade era algo imutável. E quando eu fiquei sem casa ela disse: “Eu quero que você venha pra cá, quero que você fique aqui o tempo que precisar, eu não quero dinheiro nenhum de você e gostaria muito que viesse, de coração”.
O que nos aconteceu hoje? Talvez esteja rolando um aprendizado, daqueles que só entenderemos mais tarde.
Há o amigo-bombril: Amigo da escola desde os 8 anos. Talvez o pretendente a namorado que teve mais torcida até hoje. Lembro com saudade dos nossos passeios pela escola de braços dados... Companheiro!
Sinto-me em débito com ele e quando recordo dos anos em que estive reclusa, privando-o dessa amizade tão forte hoje, sinto um gosto amargo na garganta. Sei que fui cruel. A falta de estrutura e amadurecimento da adolescência me fez machucá-lo. Tenho a plena certeza de que ele já o concedeu, mas ainda não pedi perdão por isso.
Sua pronta disposição em quase todas as mudanças de casa me fazem acreditar que, para ele, aquele tempo nunca existiu: “Eu pego a caminhonete do meu pai e a gente dá um jeito!”
Ótima companhia para viagens, lanches de fim de tarde, cinema, passeios de carro com as melhores músicas de balada.
Há o pai de meu filho(a): 11 anos tínhamos quando nos conhecemos. Uma tarde de aula chata como outra qualquer, quinta série, eis que ele apareceu: magrelinho, loirinho, cabelinho alinhado, cara de CDF. E na mesma semana nos tornamos amigos. Foram bons anos... De farra na escola, de grêmio estudantil, de conversas e mais conversas sobre o futuro... Em uma delas profetizei: "Te vejo com a sua maletinha, sendo advogado!" Cá estou lembrando-me de nós dois em sua valsa de formatura. Direito na PUC, muito bem cursado, obrigada!
Passamos alguns anos sem muito contato, mas eu NUNCA deixei de pensar nele. E hoje, quando lembro de nossas longas conversas telefônicas, onde ficávamos nos perguntando se iríamos manter contato depois de passado o tempo de colégio, sinto... Sinto um orgulho IMENSO por ser ele a ler Alberto Caeiro para mim, por ser ele a passar o Natal comigo, por ser ele a me levar para procurar casa (seja no sol ou na chuva), por ser ele a ir comprar quadros, chuveiro, buscar contrato comigo... Por ser ele a sair correndo como louco de moto, no meio da noite, para me salvar da noite obscura do centro da cidade.
Há a irmã-nipônica: Vizinha de uma tia, a via de longe. Tinha vontade de brincar junto, mas um belo dia sumiu. Foi embora para o Japão. Foi através desse fato de aderi à teoria de "tudo que não se resolve um dia volta". Pois bem, voltou três anos depois, mais moça e caiu de pára-quedas na minha sala da sétima série. A afinidade escancarou-se desde os primeiros dias. Tão forte e bonita que causamos ciúmes e brigas no resto da turma.
Ciúmes... Uma palavra que me remete àqueles olhinhos puxados. Acho que nunca senti tanto ciúme de alguém como sentia dela. Foram tantas as lições que aprendi nessa troca. Mesmo depois de muitas brigas, cobranças, lágrimas dramáticas, desprezo desnecessário... Ela não deixou de me admirar. Mesmo depois de tê-la confessado meu amor ela não se afastou.
Sim, foi com ela que me descobri. E ao contrário do que eu previa, nos aproximamos mais: “Eu já sabia e não via a hora de você me contar, queria conversar com você sobre isso, eu assistia à angustiada e eu só queria ajudar... Mas precisava respeitar a sua hora de contar”. Eis a maior o aprendizado Nisihara que ficou em mim: Aceitar as pessoas como elas são.
Há a Tia Mamusca: Antipatia sinistra inicial. Eu não permitia uma aproximação, mesmo admirando os seus esforços. Pré-conceitos de criança. Sim, criança também os tem!
Mal sabia eu o tempo que estava perdendo ficando longe dela. Só uma criatura com tamanha nobreza seria capaz de gerar a filha que tem. E foi só através dessa Menininha dos Meus Olhos que nos aproximamos. Aliás, essa criança foi a grande primeira paixão infantil que me levou a ser professora. Nossos papos infandáveis tiveram inícios pautados na sua educação e eu nunca entendi porque a minha opinião (tão jovem e livre de filhos) lhe era tão importante.
Grudamos! Muitos filmes e assuntos familiares debatidos... Como se não bastasse tanta afinidade, dividimos a profissão... A família já nos esquecia juntas pelos cantos dos almoços de dia das mães/pais/Natal...
Feita a conquista veio o medo de perdê-la. Como contar a verdade? Como dizer a ela algo que feria suas crenças? Como sair da casa dos meus pais sem contar a ela? Respirei fundo e parti para a conversa mais difícil que já tive. Minto, foi a conversa mais fácil. Porém, sem dúvidas, foi a pessoa mais difícil de contar. O medo era equivalente ao tamanho do amor.
Feita a confissão ela me abraçou dizendo: “Pára de chorar sua boba, eu já sabia, e queria muito que algum dia você decidisse conversar comigo sobre isso...”.
Pensava eu que perderiámos contato e que assim eu não poderia mais conviver com a Menina dos Meus Olhos e com sua irmãzinha... No entanto, elas foram as primeiras visitas que dormiram na MINHA casa, contrariando todos os devaneios gerados pelo medo.
o grande amor transformado: Ainda está fresca a memória do primeiro encontro, eu nunca tinha ficado TÃO nervosa na vida. Desabracei primeiro para tentar esconder a velocidade das batidas do coração, mas não teve jeito. No segundo encontro veio o velho companheiro medo, ela então, com toda a sua intensidade e vontade de amar disse: “Vir até aqui é como ir a outros bairros de São Paulo, isso não será problema”. Pronto, lá estava a tão sonhada RECIPROCIDADE.
O primeiro ano teve muita paixão e dor, sempre juntas. A distância nos rasgava por dentro. E foi esse não suportar que me libertou. Sai de casa e me casei por amor.
Os outros dois anos foram de menos paixão e mais amor. “Casar-se não é enfrentar os defeitos de outrem e sim os próprios” foi o ensinamento dessa vivência.
Divisor de águas. Não há como identificar todas as influências que carrego dela. A pessoa que mais foi minha família até aqui.
Nossa relação será sim para sempre e por todo o sempre será singular. A cumplicidade fincada supera o término, os novos recomeços, e os padrões já criados.
Ela sempre dizia: “Eu te amo hoje e amo ainda mais a pessoa que você vai ser”, não tenho coragem de perguntar, mas torço pra que seja assim mesmo, amém.
Há a irmã-gêmea-mais-velha: Minha Tata! Não poderia ter chegado por indicação melhor. Sabe de cor todas as coisas. Nada passa desapercebido por ela e é isso o que mais encanta.
“Estranho seria se eu não me apaixonasse por você...” diz a canção que me lembra essa Flor rara. Sou apaixonada pela sua lealdade, compaixão, sensibilidade, veracidade, honestidade...!
O que hoje tenho de mais valioso veio dela e, graças a Deus, tive a oportunidade de agradecê-la em alto e bom som, pois ela merece mais do que palavras escritas.
Tenho uma dificuldade tremenda em aceitar favores. Sim, sou orgulhosa. Mas como resistir a um empréstimo tão sincero? “Eu faço a inscrição agora pela internet e pago no banco, você me devolve o dinheiro quando puder. Amanhã é o último dia, ainda dá tempo!” E esse foi meu passaporte para o combustível que mantém minha vida acesa.
Dou grande importância a esse feito, mas não tiro o valor dos outros: mensagens musicadas pelo celular, caminhadas regadas à Smirnoff Ice, máfia distribuindo mentirinhas do bem, que sei que a incomoda.
Não abro mão dessa companhia. Always and Forever.
Há o amigo-prestativo: A amizade podia ter acontecido mais cedo, mas nada acontece por acaso. Ficamos amigos sozinhos e independentes! Sensível e apegado, lembra muitas vezes um cãozinho querendo colo. Companheiro de gritarias Ana-Carolinísticas, ajuda sempre que solicitado. Troca resistência de chuveiro, empresta capacete, oferece carona de Pepê, ajuda em pesquisas de compras de notebooks, comparece munido de chocolate para dividir o jantar, presenteia com Baygon Laranja. Um coração enorme e lindo.
Há o amigo-do-fervo: Nunca pensei em fazer amizade profunda em balada, mas ele veio de lá! De mansinho, como quem não quer nada, entrou na conversa, sentou junto na mesa... E então começaram as risadas, depois viraram gargalhadas e ele era a fonte de todas elas!
Fluiu sem que percebemos. De um dia para o outro tornou-se indispensável. Singularidade irreverente é como o defino. Leão bravo de coração mole, tão mole que prefere trancá-lo a setenta e sete vezes sete chaves!
Tem um jeito todo tímido de me tornar alguém especial. Sei que não concorda com parte do que digo ou faço, mas nunca o diz... Respeita!
Organiza um Baygon de Cozinha como ninguém, será sempre o promoter oficial da minha alegria mais divertida e aquele abraço lacrimejado ficará para sempre guardado na caixinha de momentos impagáveis.
E como se não bastasse tantos benefícios, ele ainda trouxe a amiga-irmã-de-coração: Divimos sentimentos. Irmãs de paixões não correspondidas. Como ela disse em mensagem no celular (e suas mensagens são sempre carregadas de sentimento puro!): confusamente maravilhosa é a nossa relação...! Uma mulher de coragem. A cada conversa ensina o quanto é válido se jogar, mesmo que seja direto para um tombo... Estaremos juntas em todos essas quedas, tenha certeza!
Há o amigo-marido: Assustador. Ele me apoia/acolhe/entende sendo eu comigo. Somos a mesma pessoa em todas as partes em que se pode ser parecido com alguém. Até nas inconscientes. Ele retira de mim o que há de mais obscuro. Joga na face o que insisto esconder. Nossas conversas são quase inconversáveis de tão abstratas, e quase tudo dito em meias palavras, não precisamos nos explicar. Uma amizade ganha sem força. Vinda de uma noite bagunçada, saída de outro vínculo. Impregnou-se em meu cotidiano, ao ponto de já saber a marca (e comprar!) do absorvente que uso. Companheiro. Pensamos em voz alta.


Aniversário desencadeia reflexão, puxa planos futuros, lembra a palavra presente e estes descritos acima, são alguns dos mais valiosos que tenho.