Cenas e diálogos


Cenário: lanchonete da faculdade, hora do almoço. Muitas pessoas almoçando e outras, como eu, na fila do caixa.
Começo a olhar para os lados, já que não há muito o que se fazer numa fila. Noto um homem, de meia idade, contemplando sua filha enquanto esta come. Ela estava muito séria, comia com vontade. Após terminar o prato e o suco, disse ao pai em tom alto e seguro:
"- Terminei. Agora traz um café por favor."
O pai, muito bem instruído, vai buscar a bebida.
Fiquei espantada com a postura da menina que não deveria Ter mais de 7 anos.
Como que em um exercício de comparação de épocas, comecei a repuxar os arquivos na memória e consegui me lembrar de algumas das minhas falas aos sete anos.
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Voltando da escola...
"- Como foi a aula hoje?
- Ah! A professora faltou, aí a gente teve aula com a prostituta.
- Menina, não é prostituta é substituta!"
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Numa festa junina...
"- O que você quer?
- Eu quero pico
ca.
- Ah... você quer pico
ca ou pipoca?
- Eu quero pico
ca.
- Você quer PI – PO – CA?
- É, eu quero PI – CO
– CA!"

Bem... ou as crianças de hoje evoluíram muito, ou eu já era lerdinha desde pequena! rs

Parece cocaína mas é só tristeza


"... e o amor que têm uma pela outra, apesar das coisas que estão enfrentando... Não sei, só parece que, às vezes, o amor não dura da maneira que esperamos, mas se pudermos superar o sofrimento ele simplesmente... Ele pode durar de maneiras mais preciosas. Talvez... É possível."
TLW
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A identificação veio instantaneamente à cena dessas frases. É assim que penso. É assim que defino o que vivemos hoje. Ainda é amor. Amor transformado. Amor mais precioso. De minha parte, talvez, mais forte. Sinto-me responsável pela sua (in)felicidade.
"Se há dores tudo fica mais fácil"
Pelo menos deveria ser assim, mas com a metamorfose do amor assim não o é, não mais. Infelizmente. Há o seu sofrimento e ele também é meu, mas isso não o ameniza. Nem cócegas faz...
Quando a distância era entre nós, e de 100 km, eu me rasgava por dentro. Não posso dizer-lhe, mas isso me dá parâmetros para pensar que a dor de agora deva ser muito, muito pior.
E o que posso fazer para judá-la? Impotência.
Mas continuarei aqui. Para acompanhar até o aeroporto, até a padaria, até a locadora... Para abraçar quando estiver chorando, sorrindo... Para dizer que o olhar está perdido no horizonte e te chamar de volta...
Continuarei aqui. Contra todos os leões, sempre.

Vida Mediana

Já vivi várias situações na quais me senti uma pessoa medíocre. MEDÍOCRE: 1. Médio ou mediano. 2. Que está entre o bem e o mau. 3. Ordinário. 4. aquele que tem pouco talento, pouco merecimento. 5. Aquilo que tem pouco valor. Vou contar a mais recente. Eu estava no ônibus (lugar onde geralmente leio, ou penso na vida, ou observo a feição das pessoas tetando adivinhar no que pensam ou para onde estão indo... Ás vezes faço as três coisas ao mesmo tempo!), totalmente pré-ocupada com meus problemas. Eu deveria estar de cara feia, muito feia mesmo. Quando fico assim me sinto insuportável. Logo minha pré-ocupação foi interrompida. O ônibus havia parado em um ponto, mas estava demorando mais que das outras vezes para voltar ao caminho. Foi então que minha atenção se voltou para a porta. Duas moças estavam entrando. A primeira era ESPECIAL e a outra muito atenciosa, cheia de cuidados com a primeira. Esta ( a primeira ), estava muito sorridente. Tinha um sorriso lindo! Lindo porque era gratuito. Ela o ofertou a todos. Primeiro ao motorista, depois ao cobrador, depois foi a vez do moço que estava na minha frente, e então, chegou a minha vez. Todos retribuíram seu sorriso. Eu também tentei, mas a alegria tão simples que vinha dela envergonhou a minha insastifação com a vida e eu só consegui repuxar um pouco os lábios, formando um sorriso médio, mediano, medíocre, de pouco valor... Lá estava eu... Perfeita fisicamente, porém imperfeita no estado de espírito. Na minha frente a moça ESPECIAL. Classificada como deficiente na maioria das vezes. Estava calma, aproveitando o passeio, sorrindo constantemente. Só ficava séria para ouvir as instruções da companheira atenciosa. Naquele momento me senti 10 vezes menor. Notei que tenho uma vida mediana. Será que nossos sorrisos são reflexos de nossas vidas? SORRISO MÉDIO= VIDA MÉDIA?

Falta


Sou uma pessoa saudosa. Sinto falta de tudo o que uma vez, obviamente, me foi bom. Pode ser de uma rotina, como por exemplo, passar em frente do mesmo lugar porque a paisagem é agradável. Pode ser de uma comida. Pode ser de uma música. Pode ser de um lugar, de uma época, de uma viagem, de uma relação, de uma conversa, de uma pessoa...
Hoje eu senti saudade dele. É uma saudade cortante, como se arranhassem meus órgãos, como se minha pele estivesse cheia de cortes. Não é uma saudade boa, é uma saudade ruim. Ruim porque é saudade de alguém que se foi mas ainda está aqui.
É saudade do seu jeito carinhoso de me olhar. Saudade do colo. Eu adorava quando ele me colocava sentada nos ombros, eu me sentia nas alturas. Saudade de brincar de pegar. Saudade da proteção. Quando a mãe brigava eu ia chorar com ele. Ele também dava bronca, mas estas eram menos dolorosas. Saudade de conversar sobre música, ele sempre se gabava do seu gosto refinado. Saudade do jeito dele com os meus amigos. Todos se assustavam com a cara de bravo, mas quando ele abria a boca as gargalhadas rolavam. Saudades dos tapinhas na perna e dos apertões no nariz, embora eu os odiasse fervorosamente. Saudades de sair do colégio e encontrá-lo na saída, me esperando. Saudades dos presentes que me dava sem motivo. Saudades imensas de ser a filhinha do papai...