Diário de Bordo - 1° dia



Deitada em uma cama de casal de colchão velho. Dica da Mamma: mais um colçhão de solteiro por cima do velho e a cama ficou boa. Nas alturas.

Meu irmão está no quarto comigo. Escrevo com a ajuda de uma lanterninha para não incomodar o sono dele.

Eu disse antes de vir para cá: "Parece que estou deixando minha família aqui e estou indo viajar com pessoas não tão íntimas..." Cruel, mas a sensação é essa mesmo.

No entanto, o clima não está ruim. Todos estão contentes por eu estar perto. Essa sensação de não-intimidade, essa distância (que tanto já machucou) tem um lado positivo. Estou sendo tratada como visita. E as visitas são bem tratadas, paparicadas.

Não dormi essa noite e estou bastante cansada. Meu estômago está estranho (ando abusando de novo). Demoramos mais de 3 horas para chegar. Não consegui dormir no caminho. Meu pai veio no banco de trás comigo. Tentava disfarçar, mas me olhava muito.

(Meu irmão está falando enquanto dorme. Medo!)

Meu avô nos recebeu com sorriso e abraço apertado. Desci do carro, coloquei minha mala no quarto e logo fui realizar o desejo que me fez aceitar o convite para a viagem. Caminhei um pouco pela grama, escolhi um espaço menos sujo, sentei (pernas de borboletas) e comecei a fitar o lugar.

Bem devagar...

Montanha por montanha, árvore por árvore, nuvem por nuvem, verde por verde...
Minha cabeça sofre com superlotação de pensamentos. Ficar quieta, em tempo indeterminado, em um lugar aberto/grande/calmo/bonito ajuda a organizar a bagunça.
A simplicidade aguda desse lugar torna ridículas as complicações da "cidade grande". A correria, a loucura pelo consumo, competição, a necessidade de saber, entender e controlar tudo...
Aqui a vida simplesmente é ao invés de 'precisar ser'.
Depois do almoço subi uma das montanhas. O pé de uma cruz enorme foi o lugar escolhido para sentar novamente e continuar a organização dos arquivos mentais.
Pensei na faculdade, no trabalho, na Roda, na vontade de sair ilesa dessa viagem. Fechei o olhos e senti muito fortemente a presença dele, meu complemento Belmont.
Companheiro incansável de divagações, devaneios, desabafos, desilusões... Mas o desejo central nem foi de sua conversa. Queria apenas que estivesse ao meu lado, sentado na grama, joelhos dobrados e envolvidos pelos braços. Fitando a paisagem em silêncio comigo. Comparilhando a mesma sensação. Sentindo a reciprocidade dessa sensação sem precisar dizer uma única palavra.



1 comentários:

Marcus disse...

É moça... somos assim mesmo, cheios de angústias e devaneios... seres sempre inquietos, carentes de orientação ou de um simples abraço. Ou ambos. Como citou a roda, Tia Monique tb ta por ae caso precise. Bjus...