Um convite




“Quero colo,

Vou fugir de casa,

Posso dormir aqui com vocês?”




A última semana causou-me, como aprendi a traduzir, estranheza. Segunda acordei querendo Curitiba. O que esta cidade me trás? Paz.

Todas as noites são agitadas, acompanhada sempre, seja em casa ou fora dela. Semana passada não.

Silêncio, era o que eu queria. Fora e, principalmente, dentro da cabeça.

Curitiba estava fora de cogitação. Eis, então, uma última opção: casa dos meus pais. Era o que qualquer um pensaria em primeiro lugar. Não eu. Ainda estou a aprender isso.

Inicialmente a informação era de solidão plena, todos estariam ocupados. Mãe com o trabalho, pai com o lazer e irmão com a namorada. Perfeito, pensei rapidamente.

O que eu queria mesmo era cochilar deitada no grande sofá da sala, ir adormecendo aos poucos, com o olhar fixo na porta que abre para a sacada. Tempo frio. O vento constante balançava forte a árvore da frente, jogando faíscas de sol-de-fim-de-tarde pra dentro da casa.

A mochila já estava largada no quarto que um dia foi meu. A casa vazia. Meu corpo relaxando aos poucos. Desliguei o celular. O dançar das folhas ia ninando as pupilas, ritmando a respiração, desliguei-me também.

Durou pouco. Uns quarenta minutos especificamente. Fui acordada pela a agitação materna, uma que me irritava bastante quando a mesma casa habitava.

Cheia de sacolas e reclamando da bagunça no quintal, foi assim-como-sempre que ela subiu as escadas. No entanto, quando me viu: sorriso instantâneo e um beijo. Umbeijonorostoestaladodesaudade.

Com muito custo esquivei o sono. Havia muitas novidades a ouvir e a contar. Ela estava disposta a ouvir, viva! Logo descobriu que teria o final de semana livre. Como seria isso? Eu, querendo paz, passando três dias com a Miss Elektra 220w?

Foi ótimo.

Na primeira tarde juntas fui obrigada a tomar: vacina contra gripe, Melagrião pra tosse e relaxante muscular. Reforma? Talvez.

Nas outras tardes assistimos Tv. Eu perguntando quem era quem nas cenas novelísticas, dada a minha assiduidade televisiva, e ela, pacientemente respondendo tudo. Claro, o interesse não era pelos enredos fáceis e previsíveis, eu estava mesmo era curtindo esse momento com minha mãe. Ela, toda empolgada me contando a trama e dando sua opinião sobre as personagens e eu ganhando sua atenção. Soando deveras infantil? Não me importo.

Domingo-pé-de-cachimbo chegou e pedia que o celular fosse ligado, que a vida social voltasse. Um evento-ritual dos mais antigos que existem: aniversário.

Adoro modernidades, mas está ai um rito que muito aprecio. Gosto de cantar Parabéns, de encher bexigas, fazer farra, abraçar e comprar presente. Tudo isso no dia certo, nada de comemorar no final de semana. O importante é comemorar O dia. Valorizo e priorizo aniversários. Se for de gente cotidiana e singular então, vira feriado-obrigatório em minha agenda.

26 anos de uma colega de trabalho/vida. Várias pessoas do meu dia-a-dia estariam lá. Celebração a 5 minutos da casa de Mamãe, por que não convidá-la? Convidá-la a conhecer algumas das pessoas que me são importantes e essenciais hoje. Convidá-la a conhecer um pouco da profissional que me tornei através dos olhos de quem divide a labuta comigo. Convidá-la a conhecer os tipos de pessoa que gosto de ter ao meu lado. Convidá-la a participar, de fato, da minha vida.

Ela aceitou e fechou, da melhor forma, o final de semana que eu precisava ter e nem sabia.

1 comentários:

Marcus disse...

Curiosa e tragicamente me vejo encenando algo parecido daqui alguns anos, dada a distância q hj me separa daqueles com quem vivo desde à chegada ao mundão. Vc sempre antecipando meus sentimentos... logo vou achar q vc é minha guru! (tem substantivo feminino pra isso??)